Por Anna Ruth Dantas A história empresarial que se funde com a história de vida. Lições aprendidas ainda crianças, que permearam a trajetória de crescimento nos negócios. O livro lido em um momento de dificuldade, que continua sendo lembrado e levado com a máxima de que “longe é um lugar que não existe”. Conversar com José Maria Figueiredo, fundador da Unifacex, empresa de educação com 43 anos de mercado, é enveredar por um rico universo, de conhecimento, experiência e muitas lembranças.
Ao falar, José Maria traz o tom da simplicidade com carga de emoção, sentimentos. Os números da empresa mostram o trabalho desenvolvido por ele. Começou a Facex com 30 alunos, hoje tem seis unidades, 8 mil alunos, 550 funcionários. E para o próximo ano planeja inaugurar mais dois centros: a Unidade do Amor e o campus no local onde funcionava o Colégio Imaculada Conceição. Em uma das muitas histórias de José Maria, está exposto exatamente a representatividade da Facex na sua vida: foi perguntado a ele por quanto venderia a empresa. José Maria fez da resposta uma nova pergunta: você tem filhos? Vende alguns dos seus filhos? “A Facex é meu filho mais velho”. Quando estava no início da trajetória de criação da Facex, José Maria leu um livro chamado “Longe é um lugar que não existe” e leva esta lição para toda vida. “Eu cheguei a conclusão que o longe é o infinito. Porque se eu achar que cheguei aí começo a morrer. Porque o cidadão morre não é quando ele adoece; ele morre quando ele não tem mais capacidade de sonhar. Então, eu sonho muito”, comenta. O convidado de hoje do 3 por 4 é um homem simples, que cativa pelas histórias e as lições, um empreendedor da educação, uma pessoa de carisma muito próprio. Como o senhor entrou no mercado da educação? É uma história muito louca, como todas as histórias. Uma história de 43 anos. Mas eu sempre tenho dito que segui orientação de um cidadão que só sabia somar, dividir, multiplicar e diminuir, Oswaldo Guerra de Figueiredo, que era meu pai. Eu muito cedo comecei a receber lições desse homem que me ajudaram muito. Lembro quando eu era pequeno eu disse “papai quero uma bicicleta”. Ele disse: compre. Foi aí que eu perguntei como eu iria comprar se eu não tinha dinheiro. E papai, na sabedoria muito grande, foi a feira comprou um miaeiro (local de colocar moedas) e disse “toda vez que eu lhe der um dinheirinho coloque aí dentro”. E quando o miaeiro encheu, que eu quebrei, tinha muita moeda, mas evidente que não dava para comprar uma bicicleta. Mas naquela altura eu já não queria mais uma bicicleta, estava com 12 ou 13 anos. Eu já estava pensando em outras coisas. E meu pai me chamou para trabalhar com ele no armazém de secos e molhados na Frei Miguelinho (rua Frei Miguelinho, na Ribeira), Armazém Bom Jesus. Eu me sentava em um tamborete, uma balança Filizola perto, o cara pedia um quilo de manteiga e aí eu fazia o embrulho. Eu passei dos 13 aos 18 anos sem receber um tostão. E achava aquilo uma ingratidão muito grande. Naquela época já existia a história do cidadão dizer a mesada de fulano. Eu achava aquilo tão bonito e eu nunca tive mesada. Quando completei 18 anos meu pai disse “vamos ali”. E eu saí com ele e quando chegamos em Marpas (loja de veículo) ele perguntou qual daqueles carros eu achava mais bonito. Eu disse: “qualquer um”, mas ele (o pai) afirmou: “qualquer um não, você tem que ter responsabilidade”. E aí eu apontei para um carro azul que eu achava bonito. Meu pai comprou o carro para mim e eu quase caí. Mas meu pai disse: “não estou lhe dando o carro, faz seis anos que você trabalha comigo” e ele (o pai) mostrou todo lucro da firma e quanto eu tinha direito. Eu agradeci muito, vivia com uma bucha e graxa passando no carro. A primeira lição que eu tive foi que quando eu não tinha carro, não tinha nada, ninguém olhava para mim. Quando comecei a ter carro apareceu namorada, amigo. Isso é uma das lições que recebi do meu pai. Fiz faculdade muito cedo, terminei Economia e fui trabalhar na Prefeitura pelas mãos do sambudo do Agnelo (Agnelo Alves). Aprendi muito quando Agnelo fez o segundo plano diretor da cidade de Natal. Quando vejo as aberrações sendo feitas hoje, os minhocões, túneis. A solução de Natal não seria isso, a solução de Natal era só se olhar o plano diretor de 1964, quando planejamos Natal para 2010. Participei disse e fui passar um ano nos Estados Unidos fazendo pós-graduação. Quando voltei eu nunca gostei de estudar e me formei, mas não era adepto de estudo. Aí me chamaram para dar uma palestra e dessa palestra me chamaram para ensinar numa escola de curso livre. E eu me empolguei com o curso livre. Depois de ocupar alguns cargos (públicos), pensei em entrar para educação e comecei na subida da Junqueira Aires (na Ribeira). O senhor começou com quantos alunos? Comecei com 30 alunos na faixa de 18 anos. O que foi determinante para Facex crescer? Primeiro eu comecei a Facex com muita dificuldade, inclusive porque não tinha dinheiro. Segundo, porque chega a um ponto que para você crescer precisa ter espaço. Naquela época eu não tinha bens para dar em garantia para fazer empréstimos. Tornou-se, realmente, muito difícil. Mas eu fiquei na Ribeira, consegui alugar mais salas, de 30 alunos fui para 100, para 500, para 800 alunos, para mil alunos. E repentinamente vi que os cursos livres estavam se acabando e era necessário eu partir para regulamentar esses cursos. Chamo curso livre aqueles cursos que não tinham o elenco das matérias não tinha no Conselho Federal de Educação, por exemplo, gerência empresarial até hoje não existe, mas existe Administração. Secretariado Executivo foi regulamentado agora (pelo Ministério da Educação). Quando começou computador era Análise de Sistema, que ainda hoje não é regulamentado. Então fiz os primeiros projetos e sabia que a Facex iria crescer. Porque o grande mal de quem termina os estudos é dizer “papai é amigo do prefeito vou fazer Enfermagem porque tem um PSF no interior”. Essa pessoa está morta, porque não vai sair daquilo e quando a política mudar ele está fora e fica desempregado. Ninguém pensa na iniciativa privada que é o grande gancho do desenvolvimento. Então, foi o que aconteceu. Eu estava no segundo ano com a Facex quando passando pela avenida Rio Branco vi um livro na livraria chamado “Longe é um lugar que não existe”. E eu li o livro e disse para mim mesmo: eu não vou ser empregado de ninguém e vou vencer só, sem precisar de sócio. Você precisa ser audacioso em tudo. Todo mundo tem seu espaço e tem que lutar por ele (pelo seu espaço). Foi o que fiz. E repentinamente eu comecei a ver que a Ribeira estava morrendo. Percebi isso pela saída de órgãos, de bancos, que deixaram as instalações da Ribeira. E a Facex estava morrendo também na Ribeira. Os cinco bancos da Ribeira tinham fechado. Fiz uma pesquisa na zona Sul e perguntei: você tiraria seu filho de um colégio classe A para colocar o seu filho no colégio classe B na zona Sul. E essa pergunta deu 96% aí não tinha erro. E nisso entra a grande ajuda que eu tive. Naquele momento eu estava casado, tinha três ou quatro imóveis e cheguei para minha mulher e disse que só havia uma solução, vender tudo e colocar nesse projeto (de instalar a Facex na zona Sul) e ela disse: onde assino? Ela (a esposa) foi muito forte e muito forte para mim. Eu vendi e fiz o primeiro prédio da Facex na zona Sul. Quando vim da Ribeira para cá eu tinha caído para 300 alunos. No outro ano que cheguei pulei para 1.600. A partir daí foi só crescimento. Qual foi o grande momento da Unifacex? É o presente. E o grande momento da Facex foi quando nós nos transformamos em centro. Hoje é Unifacex. Isso foi muito importante para Facex. A partir daí fomos crescendo, hoje são mais de 30 cursos, mais de mil alunos na pós-graduação. Esse novo projeto do Governo Federal que nem é de nível superior e nem é de nível médio, por exemplo, o técnico em cuidador de idoso, técnico em radiologia. O Ministério da Educação abriu isso e hoje só esse tipo de aluno temos 1.200. Usando a frase que o senhor leu no livro no momento em que queria viver da Facex, o senhor já chegou longe? Não. Eu continuo lutando. Eu cheguei a conclusão que o longe é o infinito. Porque se eu achar que cheguei aí começo a morrer. Porque o cidadão morre não é quando ele adoece; ele morre quando ele não tem mais capacidade de sonhar. Então, eu sonho muito. Sonho em ver o Colégio da Conceição sendo o próximo campus da Facex. O senhor abrirá a nova unidade, que funcionará no antigo Colégio Imaculada Conceição, no próximo ano? Se deixarem. Estou encontrando muita dificuldade. Quero preservar a capela, quero preservar o colégio porque tenho fotografia do tempo em que eu era pequeno e assistia missa lá. São dois campus que estamos trabalhando, a Unidade do Amor e o Colégio Imaculada Conceição. O senhor hoje tem 8 mil alunos, depois desses dois novos campus, o senhor planeja chegar a quantos alunos? É um desafio, mas quero chegar a 14 mil alunos. As vezes as pessoas perguntam porque eu não abro uma unidade em Recife. Mas eu gosto de estar vendo minhas coisas. Essas história de dizer que coloque uma pessoa, não. Tem que andar tudo de acordo. Isso aqui é uma empresa familiar e hoje sou e meus dois filhos, Oswaldo e Candice que são do meu primeiro casamento. Do meu segundo casamento tenho Lucas, que está no mesmo caminho de Oswaldo, foi estudar em Londres e quando voltar vai para o Colégio da Conceição. E tenho Bia, que tem 11 anos e vai também no mesmo jeito, mas se ela quiser. A empresa está pronta, já tive cantadas e mais cantadas para venda disso aqui, mas é um produto da terra. Eu me lembro que um cidadão chegou aqui dizendo que queria comprar e perguntou quanto eu queria. Aí eu perguntei para esse cidadão: você tem filhos. Ele disse que tinha três. Aí eu olhei para ele: você vende um filho seu? A Facex é meu filho mais velho, eu não vendo. Qual o foco do senhor agora? A Facex está consolidada. O que faço hoje é agradecer a Deus por Ele ter me feito instrumento dele aqui e educado tanta gente. Quando chego em algum órgão público ou empresa privada e encontro pessoas que estudaram com tanta dificuldade na Facex e hoje tem um bom emprego, isso me deixa muito feliz. O meu plano fora disso é continuar nisso mesmo, foi isso que aprendi a fazer. Bate e volta Trabalho na educação: difícil é deixarem a gente trabalhar. Não deixam a gente trabalhar. Projetos para amenizar o sofrimento das pessoas existem, mas o negócio é quererem fazer.