Era inevitável. Minha ida hoje ao centro da cidade, ao sindicato dos médicos, me fez de forma magnética sair da Avenida Potengi e chegar na Deodoro da Fonseca, esquina com Ulisses Caldas. Conheço bem aquele quadrado. E hoje eu estava ali, mais uma vez, porém agora para presenciar um raro caso de justiça à memória e cultura da cidade de Natal. Chego à calçada do Campus Imaculada Conceição, da Unifacex, onde funcionou o Colégio Imaculada Conceição, instituição que sobreviveu por 110 anos, fechando suas portas em Dezembro de 2012. Não foi a sensação que tive. Meu colégio estava lá, aberto, novo em folha, restaurado, reformado, preservado, iluminado, onde cada canto não perdeu a essência que me tocou ao longo de minha infância e juventude. Novamente, eu estava em casa. O Chanceler José Maria Barreto de Figueiredo merece todas as honras. Empresário da Educação, não cedeu aos modismos atuais, que certamente acabaria por descaracterizar o prédio tombado, por força dos tempos modernos. Deu exemplo: iniciei minha visita já sendo recepcionado pela grande homenagem aos ex-alunos, o largo Maria José, onde as placas dos formandos estão fincadas nas paredes, assim como as minhas lembranças. As cores azul, branco e creme continuam vestindo o colégio. Tudo cuidadosamente pensado, trabalho primoroso, com alterações internas que em nenhum instante me fez perder a familiaridade com o meu lugar. A biblioteca, hoje é a central do aluno, o pátio do primário abriga o auditório, os aposentos das freiras, a nova biblioteca. Todos os janelões preservados, restaurados. Impressiona a nova escada central ao lado da inesquecível capela, soberana e intacta. Mesmo assim, a antiga escada em espiral continua serena e firme, testemunha do sobe e desce de turmas já centenárias. Sigo em frente, como quem abre as páginas dos antigos livros ginasiais. Os bancos, as salas, os corredores, todas as figuras de um álbum mágico, que terminam na imagem de São José, protegendo o antigo jardim escolar. Continuo essa caminhada rumo as mais memoráveis vivências, tendo como guia o funcionário Valdir, também ex-aluno do colégio das Dorotéias. Chegamos ao espaço da capela, tinindo com a luz do fim da tarde, e de longe já expiava o pátio principal, o lugar do meu intervalo. Bem cuidada, a praça do recreio agora é praça da alimentação, e na lateral da igreja, a gruta da santa, exemplo de preservação de um patrimônio religioso. As quadras de esportes, imponentes, como que aguardando os novos atletas, finalizaram meu passeio pelo passado, transformando trinta minutos em quase trinta anos. Parabéns ao Professor José Maria. Sua contribuição para preservação do patrimônio histórico, arquitetônico e cultural da cidade (e do meu patrimônio afetivo) não tem valor que represente. Sua atitude extrapola a filantropia, abraça o reconhecimento, lustra a tradição, abraça o coração de novos e velhos alunos. Gustavo Xavier é Psiquiatra e eterno aluno do Colégio Imaculada Conceição.