Felipe Gurgel - Repórter de Esportes

José Maria Figueiredo é um homem de negócios bem sucedido. Comanda uma rede de ensino que vai do ensino fundamental à faculdade. Poderia estar tranquilo, vendo seu time de coração, o América, disputar os campeonatos. Mas, mais uma vez, o amor pelo clube fez com que ele aceitasse assumir, pela segunda vez, a presidência da instituição, dessa vez, segundo Figueiredo, muito mais preparado que em 1996.A meta dele é sanar as dívidas do clube e conquistar o título estadual, que desde 2003 o time não consegue. Nessa entrevista exclusiva para a TRIBUNA DO NORTE, o empresário revelou que não vai colocar dinheiro do próprio bolso no clube e que não vê problema nenhum em jogar no estádio Frasqueirão. E avisa: conselheiro que não ajudar o América, vai ser retirado do quadro de sócio do clube.

O que fez o senhor voltar atrás e decidir assumir o América mais uma vez?
Tive que romper barreiras, para assumir de novo o América. Dentro da minha casa, na minha família, encontrei muitos empecilhos. Algumas pessoas não tiveram coragem de aceitar essa missão, mas confesso que minha maior preocupação era em relação à minha família. Mas, decidi aceitar por estar mais amadurecido em relação a minha primeira passagem. Não vou cometer os mesmos erros que devo ter cometido em 1996, mesmo sabendo que antes era mais fácil dirigir o clube do que atualmente. Antes era menos complicado por termos uma estrutura nas categorias de Base, o que não temos hoje em dia. Nosso time em 1996 era formado no próprio América. Isso evitava os gastos que temos hoje, com contratações. O América construiu um Centro de Treinamento, mas, que até agora não mostrou muita utilidade. Um CT não serve apenas para treinar jogadores. A finalidade dele deve ser de revelar jogadores para que o time possa lucrar com isso.

O senhor pensa em investir nas categorias de base, então?
José Rocha conseguiu que um projeto dele, o “Fábrica de Craques”, fosse aprovado em Brasília, e com isso vamos tentar captar recursos junto aos empresários do Rio Grande do Norte, para investir nos garotos.

O América está sofrendo com dívidas?
Esse é outro problema grave no América. O clube ainda sofre com cerca de cinco dívidas trabalhistas, que somadas, devem chegar ao montante de R$ 700 mil. Temos uma dívida com o escritório de José Rocha, que nos ajudou em alguns casos de dívidas trabalhistas, que vamos ter que pagar. Mas, é igual aquele ditado: “Devo não nego. Pago quando puder”! O América vai sanar essas dívidas, mas, devagar. Vamos pagando na medida em que forem entrando receitas no clube.

O senhor acha que com esse seu projeto de revitalizar a sede social do América, pode ser uma nova receita de renda?
Sem a menor dúvida. O América tem receita de alguns negócio na sede, dos sócios torcedores e dos patrocinadores. Mas, da sede, não temos nada. Ela está completamente parada. Sem nenhuma perspectiva de dar lucro. Então, temos que descobrir o que fazer com ela. Vamos tentar fazer parcerias com o empresariado local para que a sede comece a dar receitas. Se isso vingar, esse dinheiro vai servir para cobrir gastos antigos e revitalizar as finanças do clube. Não existe nada pior que administrar algo sem dinheiro. A sede do América é muito bonita por fora, mas temos que ajeitar por dentro.

Os sócios torcedores são fundamentais para essa revitalização financeira do clube?
Com certeza. Vamos analisar cada caso de conselheiros. Os conselheiros que não honra com suas obrigações, vão ser retirados e vamos colocar outros que queiram realmente ajudar o clube. Se você tem 150 conselheiros e só 50 cumprem com suas obrigações, você manda os outros 100 embora e coloca quem queira. Tem muita gente na fila querendo ajudar o América. Aquele sócio que não quiser ajudar o América vai sair. Lógico que existem empecilhos jurídicos, mas, vou me reunir com a direção jurídica para encontrar a melhor solução.

O senhor acha que esse modelo de gestão, onde abnegados colocam dinheiro no clube, está ultrapassado?
É o seguinte: quem estiver pensando que vou colocar dinheiro dos meus negócios no América, está muito enganado. Esse tipo de gestão tem que acabar. Você pode até emprestar dinheiro, mas com prazo para receber. O que não pode é você colocar dinheiro no clube a fundo perdido. Tudo na vida é investimento, e esse tipo de administração, não é investimento. É verdade que existem os riscos calculados. Não vou cometer nenhum suicídio financeiro no América. Não vou contratar 90, 100 jogadores para só quatro darem retorno. Não vou satisfazer empresários corruptos, desonesto, que chega falando mil maravilhas e no fim o jogador não rende.

Qual a maior diferença do América de 1996 e o de hoje?
No grupo de 96 havia mais união, vontade e os jogadores acreditavam mais. Não se concebe um time como o América, que no início da série B desse ano estava brigando para entrar no G-4 e termina a competição lutando para não ser rebaixado. Alguma coisa aconteceu. Por isso que o dirigente tem que estar presente no clube. Se o presidente não puder ir ao clube todo dia, pelo menos que coloque gente de confiança para tomar conta e saber o que está acontecendo.

Como o senhor está pensando em montar o Departamento de Futebol do clube? Vai ter uma comissão especial para tratar desses assuntos?
Não tenha a menor dúvida. Estamos montando. Temos pessoas especialmente para esse setor, como Paulinho Freire, Alex Padang, os irmãos Bezerra entre outros. O Conselho Deliberativo deve ficar com José Rocha, por toda sua dedicação ao clube. Mas, a minha preocupação no momento, é sanar as dívidas do América. Se isso acontecer, sinto um prazer enorme de sentar na cadeira de presidente. Agora, você ter que trabalhar com débito, não dá prazer para nada. Mas, estamos abertos a ajuda. As pessoas que queira realmente ajudar o clube, serão sempre bem recebidas.

Existe um movimento de um grupo de conselheiros do ABC que não querem que o América jogue no Frasqueirão. O que o senhor acha disso?
Deixei de patrocinar o time de futebol de salão do América justamente por causa desse revanchismo. Estava virando uma briga de torcidas. Tenho 2.000 crianças na minha instituição de tenho que prezar por elas. Mesmo sabendo que tirando o América dessas competições, os estádios iam esvaziar. Esse conselheiro, que nem sei quem é, está com um pensamento muito pequeno. O ABC não vive sem o América e vice-versa. Liguei para o novo presidente do ABC (Rubens Guilherme) para lhe dar os parabéns. Ele é um homem de bem e fala a mesma língua que eu. Tenho até pensa desse conselheiro que está fazendo esse movimento. Tenho uma frase muito boa para esse momento: “Os que não conseguem edificar, vingam-se procurando destruir”. Esse cidadão não vai conseguir construir nada no ABC, no América ou no esporte do Rio Grande do Norte fazendo isso. Ele está fomentando uma briga de torcida. Incentivando a violência. E pode até ser responsável por isso. Já passou o tempo de revanchismo barato. Temos que defender nossos clubes dentro do campo e apenas isso. Não trato desses assuntos com conselheiros e torcedores. Isso é conversa de presidente para presidente. Esse tipo de fanatismo não leva a nada. Fanatismo dentro de casa acaba casamento, acaba negócios. Nunca vi um fanático ter sucesso.

O senhor acha algum problema de o América jogar no Frasqueirão?
Só não jogo lá se o presidente do ABC me disser que não vai alugar o estádio para meu time. Vou saber quanto é o aluguel e pagar. Se não for lá,tem outros estádios para o time jogar. Os torcedores podem ficar tranquilos que o América não vai ficar sem jogar por conta de estádio.

Mas, o time já tem um plano B, caso o Frasqueirão não seja viável?

Primeiro vou tentar jogar aqui, até por uma questão de renda. Agora, se não for possível, vamos procurar outro canto. Mas, até onde sei, o Machadão não será demolido em 2010. Sei que uma hora vamos ter que procurar outro local para mandar nossos jogos. Sei que o novo presidente do ABC é um homem de bom senso e não vai criar uma polêmica sobre isso. Até porque o ABC precisa dessa receita. E, nunca vi ninguém jogar receita fora.

Faz seis anos que o América não conquista um estadual...
Eu vim para ganhar. Já estamos montando esse time. Conseguimos achar uma espinha dorsal para o elenco, o que é muito importante. Está faltando alguns ajustes ainda, um meio-campo, um bom centroavante. Mas, temos que mudar de mentalidade aqui no Rio Grande do Norte. O América foi uma vitrine para esses jogadores na série B. Agora, todos foram embora e o clube não ganhou nada com isso. Não podemos pagar um salário alto aos jogadores com um campeonato deficitário como é o estadual daqui. Os atletas que ficaram só aceitaram porque vamos reajustar seus vencimentos para a disputa da série B. o América se deu ao luxo de ficar com jogadores custando R$ 20 mil por mês, sem sequer ser relacionado para o banco de reservas. Isso não pode mais acontecer.

Isso é falta de conhecimento por parte de quem contratou?
Isso foi inocência de nossa parte. Pecamos e muito pela inocência. Temos que ser matreiros. No futebol não existe gente inocente. O que o América não pode fazer, é acreditar em Papai Noel.

Qual a mensagem que o senhor deixaria para os torcedores americanos para 2010?
Preciso de vocês. Preciso de vocês no estádio. Só posso fazer um time competitivo se vocês torcedores estiverem presentes em todos os jogos. Seja com um time mais fraco, ou em um clássico. Vocês que pediram tanto minha presença como presidente do clube, vão ter que ajudar nesse momento. Quero ver o Machadão lotado já no primeiro jogo do América na temporada. Vim para ganhar esse título e manter o América na série B. Se tivermos tranquilidade durante a competição, vamos brigar para subir mais uma vez para a série A. Pode até ser um sonho, mas, se todos ajudarem, vamos conseguir.

FONTE - www.tribunadonorte.com.br