O desaparecimento da estudante Maisla Mariano dos Santos, 11, ocorrido na zona Norte de Natal ganhou ares trágicos depois que partes do corpo dela foram encontrados dentro de um saco para armazenar açúcar em um terreno baldio localizado à avenida Tomaz Landim, em Igapó, ontem pela manhã. A mãe da menina fez o reconhecimento no início da tarde, pelas roupas encontradas junto ao corpo esquartejado. Somente no tórax foram encontradas marcas de 31 facadas.

A menina estava desaparecida desde o começo da tarde da terça-feira, quando foi até o local onde o pai trabalha consertando relógios. “Ela foi até lá de bicicleta para que o pai pudesse ir almoçar”, contou Ângela Maria Mariano da Silva, tia da garota. Após o pai almoçar, Maisla pegou sua bicicleta com o objetivo de voltar para casa. “Depois de algum tempo, a gente ligou para o pai e ele disse que Maisla já tinha saído”, contou. “Foi aí que a gente ficou mais preocupada e saiu em busca dela”, completou a familiar.

Depois de buscas na região onde a garota morava, em hospitais e, inclusive, no Instituto Técnico e Científico de Polícia (Itep), os parentes tiveram a primeira informação na madrugada de ontem, quando a bicicleta de Maisla foi achada por policiais militares próximo a uma agência bancária. Cerca de cinco metros à frente uma mancha de sangue foi encontrada.

Segundo informações da Polícia Militar e de familiares, dois suspeitos foram detidos para averiguação por estarem nas proximidades de onde foi encontrada a bicicleta. “Eles foram para a delegacia, mas foram soltos porque não tinha nada contra os dois”, disse a tia de Maisla.

Ontem pela manhã, moradores da rua Aurora encontraram outra mancha de sangue distante cerca de 50 metros onde estava a bicicleta e a outra mancha de sangue na Tomaz Landim. A mãe da estudante, Marisa Mariano de Moura, contou que populares viram Maisla pela última vez nas proximidades do posto de saúde do Jardim Lola.

Inconsolável, ela se descontrolou em alguns momentos quando lembrava de sua filha e ficou sob os cuidados de familiares ontem pela manhã enquanto as partes do corpo ainda não tinham sido encontradas.

Amigos e familiares de Maisla se mobilizaram nas buscas pela estudante e por volta das 10h de ontem parte do tórax e de uma perna à altura do joelho foram achados em um terreno baldio por populares.

O fato logo chamou a atenção da população, que tumultuou não só a avenida Tomaz Landim como a rua Izabel de Brito Lima, paralela à avenida e onde os policiais militares conseguiram entrar no terreno fazendo buscas.

De imediato, equipes da Polícia Civil foram deslocadas ao local para dar início às investigações e buscas pelos suspeitos que foram detidos anteriormente, mas soltos por falta de provas. Enquanto isso, familiares de Maisla ficaram abalados com a notícia do encontro do corpo, mas não souberam dizer se era da estudante.

A tia lembra que Maisla saiu de casa com um short preto e uma blusa branca. Exatamente as roupas reconhecidas pela mãe da menina, no Itep. O major Lenildo de Sena, do 4º Batalhão de Polícia Militar, declarou que “só o Itep pode confirmar se o corpo é da menina”.

Peritos do Itep foram ao local e recolheram as partes bem como as peças de roupa achadas. Como foi feito a partir da roupa, o reconhecimento da mãe é considerado diante da lei como informal, e por isso, as partes do corpo só podem ser liberadas depois da realização de um exame de DNA.

Suspeito frequentava mesma igreja

Um dos homens apontados como principal suspeito do crime freqüentava a mesma igreja que a vítima. A informação foi confirmada pela tia de Maisla. “Ela era da Igreja Adventista do Sétimo Dia aqui na zona Norte”, informou. O homem foi expulso da igreja em 1996, exatamente por ter sido acusado de aliciar meninas da congregação.

Este suspeito, um homem de 56 anos, foi um dos detidos pela polícia na madrugada de ontem, mas solto pela falta de indícios contra ele naquele momento. Ele foi pego na casa dele, a poucos metros do terreno onde o corpo foi encontrado, e levado para uma delegacia para prestar depoimento, mas acabou sendo liberado.

Coincidência ou não, depois desse fato e da repercussão que ganhou o desaparecimento de Maisla ele não foi mais visto pela região. O pastor da igreja onde a família da menina congrega, Fernando Silvano Moreira, confirmou a acusação feita contra o fiel, e disse ainda que mesmo depois de expulso, o homem frequentava a igreja esporadicamente.

Ao saberem que o tal homem era um dos suspeitos, os moradores saíram revoltados em direção à casa dele, que também fica na Avenida Tomaz Landim. Chegando lá, os populares tentaram invadir o imóvel com objetivo de linchar o suspeito. “Lincha, lincha, lincha”, gritavam as pessoas enquanto tentavam passar pelo portão estreito da vila onde fica a casa.

O trânsito ficou complicado e, em alguns momentos, chegou a ficar parado, principalmente nas imediações de onde o suspeito morava. Entretanto, no momento do tumulto, o homem não estava mais lá e a Polícia Militar teve trabalho para retirar os populares do local para que as equipes da Polícia Civil começassem o trabalho investigativo. Mesmo assim, o veículo do suspeito foi depredado com chutes, arranhões e vidros quebrados.

A tia de Maisla também invadiu o imóvel do suspeito. Lá, ela se deparou com sacos contendo calcinhas e biquinis. “É ele diz ser da igreja com essas roupas em casa”, questionou a familiar. O vendedor Jeferson Diego Rezende de Lima afirmou ter vistou o suspeito no local do crime. “Tenho certeza que é ele a pessoa que estava perto da bicicleta da menina”, declarou.

Uma moradora da vila em que residia o suspeito disse que ao ser chamado para comparecer a delegacia o suspeito relutou em ir. “Ele ficou falando que ia processar a família da menina por aquilo”, disse a mulher que pediu para não ter a identidade revelada. Uma coisa é certa: um grande efetivo das polícias Civil está à caça do suspeito do assassinato.

Cinco delegados investigam o assassinato

Cinco delegados da Polícia Civil estiveram no local onde foi encontrado partes do corpo da estudante Maisla Mariano. Laerte Jardim Brasil e Marcos Vinícius, da Delegacia de Homicídios (Dehom), Adriana Shirley Caldas, da Delegacia Especializada da Criança e do Adolescente (DCA), e Raimundo Rolim de Albuquerque Filho, do Núcleo de Inteligência da Secretaria de Defesa Social, e Jodelci Pinheiro, do 9º Distrito Policial, responsável pela área onde ocorreu o crime.

Rolim, Laerte, Adriana e Marcus Vinícius não quiseram comentar acerca do fato argumentando que precisam ter mais subsídios para a investigação naquele momento. Antes de as roupas serem reconhecidas, o delegado Jodelci Pinheiro adiantou que Maisla era a única criança com queixa de desaparecimento naquela região, e já dizia acreditar se tratar mesmo da menina. “Soubemos do desaparecimento na tarde de ontem (terça-feira) e hoje (ontem) acharam essas partes do corpo de uma criança. Então, fica muito difícil não ser essa garota”, argumentava.

A busca pelas demais partes do corpo esquartejado ainda continua sendo feita pela Polícia, principalmente na região onde a garota desapareceu no começo da tarde de terça-feira. Além da busca pelo corpo, os policiais continuam as diligências para capturar o principal suspeito do crime e também vão aguardar o resultado dos exames no Instituto Técnico Científico de Polícia a serem feitos nas partes encontradas dentro de um saco de açúcar.

Médico constata 31 facadas no tórax

O médico legista Carlos Jatobá iniciou ontem à tarde os exames de necrópsia na tórax e na perna da menina Maisla. Foram contadas 31 facadas, concentradas principalmente do lado direito do tórax. “Foi de uma frieza estúpida”, disse o atendente do necrotério, Felipe Barela. Segundo ele, cabeça e membros foram separados com cortes cirúrgicos, o que denota tempo e paciência. O instituto está à espera de outras partes do corpo, para um exame mais detalhado, já que o reconhecimento da mãe, feito pelas roupas, não é oficial. Se o crânio da menina for encontrado, a liberação do corpo pode ser feita depois de um exame da arcada dentária. Se não, será necessário um exame de DNA, cujo resultado leva 60 dias.

“Eu estou morto por dentro”

“Eu estou morto por dentro. Não sinto nada. Estou me tremendo e não como desde que isso começou”, disse o pai de Maisla, Nerivan Pereira dos Santos, que trabalha consertando relógios em uma feirinha no Igapó. É de lá que ele tira o sustento da família e era onde ele estava quando a menina sumiu.

Maisla tem uma irmã mais nova, com oito anos, e segundo o pai, nenhuma das duas jamais deu trabalho em casa. “Minha filha era a criança mais doce do mundo”, disse. Nerivan conta que as brincadeiras das crianças tinham como espaço apenas a calçada de casa e que por isso estava sempre às vistas de toda a família.

A filha mais velha era aplicada aos estudos. Estudava na escola estadual Padre José Maria Biezinger, a poucas ruas de casa, e que ontem esteve fechada por todo o dia, em sinal de luto. Outras escolas do bairro Jardim Lola, onde a garota morava, também não abriram, nem no turno da noite.

“Ela acordava todo dia às 6h30, e ela mesmo engomava as roupas. Não queria nem tomar café para ir para a escola”, contou Nerivan. Ontem, os moradores da rua Aluízio Alves, onde fica a casa da família estavam estarrecidos. A comunidade é palco frequente da violência. O tráfico e tiroteios são até comuns, mas ninguém ali imaginava vivenciar tamanha barbárie. “Estava todo mundo aqui ajudando a procurá-la. Até na maré a gente foi. A rua ontem parou. A gente aqui vê tiroteio todo dia, mas uma coisa dessas que fizeram com ela é terrível”, disse uma menina que não quis se identificar.

Para o pai, o responsável pelo crime não é uma pessoa normal, e cobrou a prisão do assassino. “É um monstro. Não foi homem quem fez isso com minha filha”, disse Nerivan. O comerciante ressaltou que a filha era desprovida de qualquer malícia, e por isso, fácil de ser enganada por alguém. “Ela não tinha a maldade que outras crianças têm. Se alguém ofereceu ajuda, é capaz de ela ter aceitado”, contou. Isso porque, testemunhas disseram à família que viram a menina empurrando a bicicleta com a corrente quebrada, a caminho do trabalho do pai.
FONTE - ww.tribunadonorte.com.br